segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Sobre as nossas conversas

Enquanto ele estacionava o carro na faixa amarela, ao lado da praça, eu tirei o cinto e segurei minha bolsa. Eu sabia que deveria me despedir, descer do carro e entrar na estação de trem - sim, eu sabia. Mas é engraçado o quanto a vida prega peças na gente! Eu tinha que sair dali, mas não sei, algo simplesmente me fez ficar. Abri minha bolsa pra procurar os trocados da passagem e assim ganhar mais tempo. Achei. E a vontade de sair ainda era pequena, então desisti.

Deixei a bolsa cair ao meu lado no banco do passageiro e me virei pra ele, com um olhar de quem não quer admitir o que está óbvio. Eu queria conversar - não importando sobre o que, sobre quem e nem por quanto tempo... Eu só queria estar ali com ele.

Ele não olhou as horas e nem se preocupou com as pessoas que passavam perto do carro. Aquela era uma oportunidade rara. Não que não tivéssemos conversado nas outras vezes que estivemos sozinhos - porque conversávamos o tempo todo, mas dessa vez era diferente. Eu não queria ir embora e sentia que ele também não queria que eu fosse.

Ora! Logo eu que nunca falei dessas coisas todas me vi lá, rindo do passado que eu não vivi. Imaginando 1001 coisas pra que o tempo não passasse. Me vi segurando minha vontade de tocar nele e acabar com o encanto todo. Imaginei até cenas de beijos em pleno dia de domingo - que vergonha!

E ele me contava sobre a família, sobre os erros, a bagunça e tudo mais que se pudesse imaginar. Eu estava vendo por baixo da máscara que ele usava - porque todos nós temos um disfarce que usamos a maior parte do tempo. E quando ele se livrou do dele ali, bem na minha frente eu soube. Soube que era ali mesmo que eu deveria estar. Nada dessa frescura de pra sempre, de eterno. Eu deveria estar ali agora, só pra ver ele contar aquelas coisas e rir, como se não fizesse diferença alguma. Mas fazia. Ah, se fazia.

A gente vive a vida de um jeito tão corrido, sem prestar atenção nos detalhes e quando se vê numa situação dessas fica desarmado. A vontade de ficar era grande (talvez até um pouco maior do que quando havíamos parado o carro), mas eu tinha que ir logo. E lá estava eu, novamente imaginando de quantas maneiras estúpidas eu poderia estragar aquele momento. Resolvi não fazer besteira dessa vez. Agradeci a conversa, dei-lhe um beijo no rosto e saí - me sentindo tão bem quanto há muito tempo não sentia.

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