quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Quadrilha

 João amava Teresa, que amava Raimundo, que amava Maria, que amava Joaquim, que amava Lili... que não amava ninguém! João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes - que não tinha entrado na história.
 Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Sobre as nossas conversas

Enquanto ele estacionava o carro na faixa amarela, ao lado da praça, eu tirei o cinto e segurei minha bolsa. Eu sabia que deveria me despedir, descer do carro e entrar na estação de trem - sim, eu sabia. Mas é engraçado o quanto a vida prega peças na gente! Eu tinha que sair dali, mas não sei, algo simplesmente me fez ficar. Abri minha bolsa pra procurar os trocados da passagem e assim ganhar mais tempo. Achei. E a vontade de sair ainda era pequena, então desisti.

Deixei a bolsa cair ao meu lado no banco do passageiro e me virei pra ele, com um olhar de quem não quer admitir o que está óbvio. Eu queria conversar - não importando sobre o que, sobre quem e nem por quanto tempo... Eu só queria estar ali com ele.

Ele não olhou as horas e nem se preocupou com as pessoas que passavam perto do carro. Aquela era uma oportunidade rara. Não que não tivéssemos conversado nas outras vezes que estivemos sozinhos - porque conversávamos o tempo todo, mas dessa vez era diferente. Eu não queria ir embora e sentia que ele também não queria que eu fosse.

Ora! Logo eu que nunca falei dessas coisas todas me vi lá, rindo do passado que eu não vivi. Imaginando 1001 coisas pra que o tempo não passasse. Me vi segurando minha vontade de tocar nele e acabar com o encanto todo. Imaginei até cenas de beijos em pleno dia de domingo - que vergonha!

E ele me contava sobre a família, sobre os erros, a bagunça e tudo mais que se pudesse imaginar. Eu estava vendo por baixo da máscara que ele usava - porque todos nós temos um disfarce que usamos a maior parte do tempo. E quando ele se livrou do dele ali, bem na minha frente eu soube. Soube que era ali mesmo que eu deveria estar. Nada dessa frescura de pra sempre, de eterno. Eu deveria estar ali agora, só pra ver ele contar aquelas coisas e rir, como se não fizesse diferença alguma. Mas fazia. Ah, se fazia.

A gente vive a vida de um jeito tão corrido, sem prestar atenção nos detalhes e quando se vê numa situação dessas fica desarmado. A vontade de ficar era grande (talvez até um pouco maior do que quando havíamos parado o carro), mas eu tinha que ir logo. E lá estava eu, novamente imaginando de quantas maneiras estúpidas eu poderia estragar aquele momento. Resolvi não fazer besteira dessa vez. Agradeci a conversa, dei-lhe um beijo no rosto e saí - me sentindo tão bem quanto há muito tempo não sentia.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Grey's Anatomy

"Meredith: Eu menti. Não estou fora... dessa relação. Estou dentro. Estou tão dentro que é humilhante, pois aqui estou eu implorando...
Derek: Meredith...
Meredith: Cala a boca. Você diz Meredith e eu grito, lembra?
Derek: Sim.
Meredith: Muito bem. Aqui está. Sua escolha? É simples. Ela ou eu. E tenho certeza que ela é fantástica, mas, Derek, eu te amo. De verdade mesmo, daquele jeito que "finge que gosta do seu gosto em música, te deixa comer o último pedaço de torta, segura um rádio acima da cabeça do lado de fora de sua janela," desse jeito infeliz que me faz te odiar, eu te amo. Portanto, me escolha. Me escolha. Me ame."

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Depressa


Depressa não demora pra entender
que coisas assim não acontecem mais.
E toda vez que eu vejo você
o meu corpo pede, minha boca cala...
Mas pede você!
Mariana Rios

sexta-feira, 1 de julho de 2011

O "amor" irá nos separar

Muitas vezes, nos vemos em situações em que os sentimentos são deixados de lado, não? Nessas ocasiões pouco importa o que realmente sentimos, mas sim o que queremos. Queremos exclusividade, não? Queremos ser importantes. Claro, nada de incomum nisso - afinal, estamos todos aqui para amar e ser amados*.

(*Vamos esclarecer um pouco as coisas: amar e ser amado não precisa ser necessariamente por um namorado/marido. Podemos muito bem ser amados pelos nossos pais, pelos nossos amigos... Enfim, as possibilidades são inúmeras.)

Mas o que dizer das vezes em que nosso egoísmo passa a falar mais alto, a ponto de fazer a pequena voz do amor calar? Nós envenenamos o amor dia após dia - e eu não estou de brincadeira. Nós o machucamos, pisamos, menosprezamos... Mas tudo em nome de um bem maior: a fidelidade, a exclusividade. Ou melhor dizendo: a lealdade.

Será que essas coisas podem ser compradas? Será que podem ser impostas? Será que devo impedir meu companheiro de ter amizades com medo de que ele descubra um novo amor? Será que não devo dar a ele um minuto sequer de sossego, para que ele não tenha tempo de olhar pra mais ninguém? Devo deixá-lo exausto a ponto de não querer conversar com mais ninguém?

Vocês sabem que isso acontece - e não pouco. Cada vez mais vejo isso. Vejo cobranças, brigas - e o pior de tudo: soberba! SIM! Além de todos os joguinhos psicológicos, existe a presunção da convicção. Agora me responda sinceramente:

-Que direito tem você de infernizar a vida do próximo?
E mais:
-Que direito tem você de infernizar a vida dos demais?

Insegurança, pra mim, é uma desculpa. Um pretexto babaca pra podermos ser mesquinhos. Quem não sabe viver a vida sem culpar os outros pelo que não pode fazer, não merece se relacionar com mais ninguém. Vai se relacionar pra que? Pra fazer uma chantagem aqui, dar uma chorada ali e aos poucos acabar com a vida social da pessoa que gosta?

Pode parecer besteira, mas quem ama não impede de nada. Quem ama, quer acima de tudo, ver a pessoa que gosta feliz. Se isso significa sair sozinho com os amigos em alguns finais de semana, não tem problema nenhum. Quem ama não faz chantagem, não coloca em saia justa, não proíbe.

Será que estou sendo démodé? Acho que não. Essa, é só minha opinião. O que mais poderia ser?

sexta-feira, 24 de junho de 2011

O morro dos ventos uivantes

Mostraste-me agora o quão cruel tens sido. Cruel e falsa! Por que me desprezaste, Cathy? Por que traíste o teu próprio coração? Não tenho sequer uma palavra de conforto para te dar. Tu mereces tudo aquilo por que estás a passar. Mataste-te a ti própria. Sim, podes beijar-me e chorar o quanto quiseres. Arrancar-me beijos e lágrimas. Mas eles queimar-te-ão e serás amaldiçoada. Se me amavas, por que me deixaste? Com que direito? Responde-me!
Por causa da mera inclinação que sentias pelo Linton? Pois não foi a miséria, nem a degradação; nem a morte, nem algo que Deus ou Satanás pudessem enviar, que nos separou. Foste tu, de livre vontade, que o fizeste. Não fui eu que te despedacei o coração, foste tu própria. E, ao despedaçares o teu, despedaçaste o meu também. Tanto pior para mim, que sou forte e saudável. Se eu desejo continuar a viver? Que vida levarei quando... Oh! Meu Deus! Gostarias tu de viver com a alma na sepultura?

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Nada machuca como você

Te amar é fácil jogando segundo as regras, mas você disse que o amor é mais gostoso quando é cruel. Para você tudo não passava de um jogo, e você jogou legal comigo. Mas eu te quero, eu te quero, eu te quero, te quero muito mais do que deveria. Sim, eu quero!

Eu levantei minhas mãos para ficar sob a sua mira. Sim, eu estou pronto! Não há nada, nada que nós não possamos vencer. Oh, isso me atingiu como um trem de carga de ferro quando você
me deixou. Nada me machuca como você!

Eu fui ingênuo e apressado, mas você me fez ver que não dá para provar do mel sem provar do ferrão da abelha. Não, não dá! É, você me ferruou de jeito. Ah, é, você cavou bem fundo, mas eu aguento, eu aguento isso, eu aguento isso até que eu esteja de joelho.

Não há nada, nada que eu não faria: andar mil milhas sobre vidros quebrados. Isso não vai me parar de continuar meu caminho de volta pra você. Não é real até você sentir a dor... Nada me machuca como você!

Oh, nada como machucar você! Você tem que acreditar em mim. Oh, tudo não passava de um jogo... É, você jogou legal comigo mas eu te quero, eu te quero, eu te quero, eu te quero, eu te quero! Oh, isso me atingiu como um furacão quando você me deixou, mas eu faria, eu faria tudo de novo por você! Eu andaria mil milhas sobre vidros quebrados. Isso não vai me parar de continuar meu caminho de volta pra você. Não é real até você sentir a dor, nada me machuca como você.
James Morrison

domingo, 15 de maio de 2011

Até parece


Até parece que não lembra, que não sabe o que passou. Não faz assim! Não faz de conta que não pensa em outra chance prá nós dois. Olha prá mim: não me torture, não simule, não me cure de você! Deixa o amanhã dizer.

Marisa Monte

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Prazer, Coringa.


Você dirigia enquanto eu colocava a cabeça pra fora da janela e sentia, de olhos fechados, o vento frio no rosto. O vento frio do inverno no Rio Grande do Sul. Você disse que me levaria para a serra e que teríamos arco-e-flecha e armas e caças e facas de damasco. Eu dancei nua pra você naquela noite. Naquela noite em que dormimos numa pousada em Nova Petrópolis. E vi o Coringa. Chorei, eu sei que chorei quando te olhei e você disse com voz rouca, tudo bem, vai ficar tudo bem. Não, não vai ficar tudo bem porque você é o Coringa e tem esse jeito de me olhar e esse sorriso malicioso. Eu sei, eu sei porque você me trouxe aqui, você me trouxe aqui pra debochar de mim.

O gato na parede, meia-calça preta no chão gelado, a lareira azul e folk no rádio. Na primeira vez, na tua cama, árvores, janela aberta e a lua. Vi vampiros na estrada perto de Cidreira. Nos meus sapatos vermelhos ainda há a lembrança do Bom Fim. E tinha aquele pescador solitário bem ao longe na praia. Eu fiz fotografia. Mas eu sei que um dia tudo vai acabar.

Sozinha, em São Paulo, olho para o teto branco. Não valho nada. Não sei mais andar de mãos dadas. Não sei mais dizer eu te amo. Sou agora meus sapatos vermelhos, meu jeans surrado e meus livros velhos. Posso beber com você, fumar com você, trepar com você, mas sou apenas uma garota sem esperanças. Não diga que vem me ver de novo. Porque eu vou rodar por aí a pé da Heitor Penteado até o Baixo Augusta. Vou rir e beber entre os atores todos da Praça Roosevelt. E esquecer. Não precisa me convencer de nada.Não posso mais te dar um filho. Estou velha. As coisas nunca são como antes. Há o cansaço, novas reclamações e manias. A de nunca mais querer é uma delas. Gosto de abraçar minhas próprias pernas. Dá uma sensação de conforto e abrigo. Porque essa sensação eu conheço e não oferece nenhum risco. Risco de perder de novo.Quando subir a serra mais uma vez, aumente o volume do rádio. Bauhaus há de tocar as estrelas e abrir a neblina. Segunda-feira vou até o Martinelli fotografar. Paisagem. Me convença, Coringa. Me convença de que você é mais forte. Me convença de que você sabe mesmo rir. Quero ver você rir da própria desgraça. Eu vou dançar sobre seu peito e seus braços tatuados até você chorar pela última vez. E se arrepender. Eu danço com a morte, eu tenho olhos da noite. Você é só um homem que insiste em acreditar. Estamos todos mortos descendo a mesma serra rumo ao inferno. Quando chegarmos lá no fim, aquele beijo será apenas um retrato esquecido no fundo da gaveta. Desbotado.
(naestradadenovo.blogspot.com)

segunda-feira, 7 de março de 2011

Sobre perder.

"É engraçado." Não, não é. Não é engraçado perdermos as coisas. Perder um sapato, um documento, um amigo... Perder a fé, a confiança. Perder a vontade de tentar.

Ele estava ali parado na sua frente e você perdeu a coragem de falar. Você perdeu a chance de consertar as coisas, de fazer tudo ficar okay. Você só tinha que abrir a boca e dizer tudo que estava sentindo. Sim, era tudo o que ele estava esperando.
E com isso, mais uma pessoa perdeu algo: ele perdeu a esperança. Perdeu a esperança de que vocês finalmente pudessem ficar juntos. Perdeu a vontade de te ver, perdeu a vontade de tentar de novo - perdeu a vontade de tentar tantas e tantas outras vezes depois.

Quantas coisas não perdemos pelo medo de tentar? Perdemos por pensar demais no "se der errado", no "se ela não quiser" ou no "se ele não me perdoar". É quase um medo de ser feliz, de ser sincero, de correr atrás. É o medo da rejeição, o medo do não... Mesmo que esse não signifique um 'fale de novo". É um medo de jogar limpo consigo mesmo e com os outros. Medo de não ter uma carta na manga, quando na verdade o que a gente quer mesmo, é jogar tudo pro alto e partir pro abraço.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Stardust.


Lembra quando eu disse que entendia um pouco de amor? Não era verdade! Eu entendo muito de amor. Eu já vi, eu vejo há centenas e centenas de anos. É a única coisa que faz suportável observar o seu mundo. Todas essas guerras, dor, mentiras, ódio, me fazem querer dar as costas e nunca mais olhar… Mas observar o jeito que a humanidade consegue amar… Pode procurar no mais longe recanto do universo e nunca vai encontrar nada mais bonito, por isso, sim! Eu, eu sei bem que o amor é incondicional, mas também sei que pode ser imprevisível, inesperado, incontrolável, incontido e estranhamente fácil de ser confundido com uma aversão… O que estou tentando dizer é que acho que amo você. Meu coração… é como se meu peito mal pudesse contê-lo! Como se ele não pertencesse mais a mim, mas pertencesse a você. E se você quisesse, eu não iria te pedir nada em troca! Nem presentes, nem bens, nem demonstrações de devoção, nada! Nada além de saber que me ama também. Só seu coração em troca do meu.”

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Romanticídio

Deixe-me ser e pare de dizer como devo me sentir.
Para ofender, para me proteger do mal.
Deixe-me ser!
A overdose de mentiras está me matando.
Romanticídio, até que o amor me separe.

Nightwish

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Strip-Tease

Chegou no apartamento dele por volta das seis da tarde e sentia um nervosismo fora do comum. Antes de entrar, pensou mais uma vez no que estava por fazer. Seria sua primeira vez. Já havia roído as unhas de ambas as mãos. Não podia mais voltar atrás. Tocou a campainha e ele, ansioso do outro lado da porta, não levou mais do que dois segundos para atender.

Ele perguntou se ela queria beber alguma coisa, ela não quis. Ele perguntou se ela queria sentar, ela recusou. Ele perguntou o que poderia fazer por ela. A resposta: sem preliminares. Quero que você me escute, simplesmente.
Então ela começou a se despir como nunca havia feito antes.

Primeiro tirou a máscara: "Eu tenho feito de conta que você não me interessa muito, mas não é verdade. Você é a pessoa mais especial que já conheci. Não por ser bonito ou por pensar como eu sobre tantas coisas, mas por algo maior e mais profundo do que aparência e afinidade. Ser correspondida é o que menos me importa no momento: preciso dizer o que sinto".

Então ela desfez-se da arrogância: "Nem sei com que pernas cheguei até sua casa, achei que não teria coragem. Mas agora que estou aqui, preciso que você saiba que cada música que toca é com você que ouço, cada palavra que leio é com você que reparto, cada deslumbramento que tenho é com você que sinto. Você está entranhado no que sou, virou parte da minha história."

Era o pudor sendo desabotoado: "Eu beijo espelhos, abraço almofadas, faço carinho em mim mesma tendo você no pensamento, e mesmo quando as coisas que faço são menos importantes, como ler uma revista ou lavar uma meia, é em sua companhia que estou".

Retirava o medo: "Eu não sou melhor ou pior do que ninguém, sou apenas alguém que está aprendendo a lidar com o amor, sinto que ele existe, sinto que é forte e sinto que é aquilo que todos procuram. Encontrei".

Por fim, a última peça caía, deixando-a nua
"Eu gostaria de viver com você, mas não foi por isso que vim. A intenção é unicamente deixá-lo saber que é amado e deixá-lo pensar a respeito, que amor não é coisa que se retribua de imediato, apenas para ser gentil. Se um dia eu for amada do mesmo modo por você, me avise que eu volto, e a gente recomeça de onde parou, paramos aqui".

E saiu do apartamento sentindo-se mais mulher do que nunca.
(Martha Medeiros)

domingo, 2 de janeiro de 2011

The pieces don't fit anymore



Bem, não consigo explicar por que isso não é suficiente, porque eu te dei tudo. E se você me deixar agora, apenas me deixe agora! É a melhor coisa a fazer... É tempo de se render, foi muito tempo fingindo. Não há mais utilidade em continuar tentando quando os pedaços não se encaixam mais.

James Morrison