segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O encontro

Eu fiquei ali sentada esperando enquanto ele buscava um refrigerante de laranja. Nós haviamos nos conhecido há alguns minutos e eu realmente estava adorando tudo aquilo. Não foi como das outras vezes, quando um cara faz apenas uma cantada vulgar. Foi diferente, foi engraçado. Sim, foi engraçado, essa é a palavra certa! Jamais esperava que o cara que estava com aquela camisa listrada, totalmente fora de moda, estaria agora buscando pra mim um refrigerante - para compensar o que ele havia derrubado encima de mim, momentos antes. Como as coisas são engraçadas mesmo, porque ele acabou de me olhar e sorrrir... Um sorriso torto, envergonhado, mas ainda assim, um sorriso tão lindo.

Então ele veio até a mesa, sentou-se, pedindo mais uma vez desculpas por ter me sujado dentro do trem. Eu digo que está tudo certo, que ele já me explicou isso milhares de vezes antes e que, afinal de contas, a minha roupa nem sujou tanto (embora tenha sujado, sim). Ele sorri mais uma vez aquele sorriso e eu reparo que quando ele ri, a boca dele vai mais para a esquerda do que para a direita... Tendo visto isso, sorrio junto - me achando uma boba por estar ali, amando os pequenos detalhes daquele estranho.
Ele percebe o meu olhar e pergunta se disse algo de errado. Óbvio que não vou entregar o jogo. Disfarço e digo que não. Ele acredita (ou ao menos finge acreditar).

-Mas me diga, como é mesmo o seu nome?
Sorrio, dessa vez de satisfação. Ele quer saber de mim. Yes!
-Me chamo Fernanda, e você?
-Prazer, me chamo Marcos.

Entre informações comuns e sem importancia, descubro um pouco daquele homem que está sentado na minha frente. Agora já não somos completos estranhos, sei que seu nome é Marcos e que trabalha em um escritório contábil. Descubro que ele sonha em ter seu próprio escritório e tirar férias todos os anos (o que não acontece há 3). Mora num apartamento perto do centro da cidade, o qual divide com um amigo de infancia.
Descubro que ele gosta de sair a noite, mas não costuma fazê-lo por falta de tempo. Fico sabendo que gosta muito de vinho, mas que não dispensa uma cervejinha com os amigos.

-Mas me fale um pouco de você.

Droga! E agora? Sou péssima nisso. Tenho que me controlar para não parecer uma maluca, não posso falar demais.

-Sou fotógrafa. Bom, não exatamente fotógrafa... Quero ser, mas sou uma amadora por enquanto.

Aos poucos conto um pouco de mim. Ele ri, se surpreende. Talvez ele jamais esperasse ouvir que sou uma adoradora de animais, que eu canto todas as músicas que conheço junto e que gosto de jogar video game.
Tenho medo de dizer alguma bobagem e estragar tudo, mas dane-se.

19:27
Ele olha o relógio pela primeira vez desde que nos sentamos lá, há exatamente 2:30hrs atrás. Percebo que ele precisa ir, e então poupo-lhe a parte chata. Digo que está tarde, logo meu ônibus passa e que não quero perdê-lo. Ele ri, se levanta e me acompanha até o ponto.

-Sinto muito, gostaria de poder ficar mais. Sinto que deveria pedir pra te ver de novo, mas não vou pedir. Sinto que deveria te beijar, mas eu não vou fazer isso. Eu não sei exatamente o que dizer, mas...

E nesse momento ignorei o sorriso torto, os olhos azuis e o jeito conservador daquele homem. Nesse momento calei-o com um beijo.
Depois do beijo sorri, dessa vez sem vergonha alguma, disse tchau e entrei no ônibus - que acabara de chegar. Sentei no banco do fundo, na janela. Vi a maneira que pos a mão na cabeça, o modo que me olhava e tive tempo ainda de ver... Sim, o vi mais uma vez dar aquele mesmo sorriso de quando me comprava o refrigerante.

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